Benção da mulher antes do parto. Você conhecia?

Para quem não me conhece, sou Católica Apostólica Romana. Me interesso muitíssimo por estudar religião e, mesmo olhando ao redor e me vendo solitária diante desse interesse que chega a exasperar a alma, vejo que “só sei que nada sei”.

A benção da mulher antes do parto faz parte do Ritual Romano e é um momento de intensa espiritualidade para a alma materna antes de dar a luz.

As orações, antífonas e preces são voltadas para aquele momento que, muitas vezes, são tão delicados e sensíveis para a gestante.

Tenho certeza que muitos catótlicos não fazem ideia do que estou falando. Montei hoje o roteiro para a benção de uma amiga, a primeira que presencio e, inclusive, sirvo na liturgia. Aqui o roteiro do Ritual Romano (está em português de Portugal, mas são pouquíssimas as diferenças).

Vale a leitura. Quer dizer, com quantos anos você descobriu que havia esse rito? Bem, o que importa agora é não se vitimizar e buscar culpados (são tantos que podem incluir até mesmo você). Já pensou em buscar mais conhecimento sobre os rituais milenares da Igreja Apostólica Romana?

Tudo é do Amor e é destinado a Ele

Quais os perigos de nos isolarmos e fazer tudo remotamente pela internet quando se trata de mundo espiritual, principalmente?

Uma das tentações é acreditar piamente na heresia de que a ascese é pura e simplesmente fruto do nosso esforço enquanto estudiosos e buscadores da ação de Deus.

Na verdade, tudo é graça de Deus e para Ele.

É preciso que estejamos sempre “em saída” para que possamos encontrar o outro, e mais: encontrar-nos no outro.

Por melhores que sejamos, não somos melhores do que o outro. Cada um de nós está em amadurecimento da fé.

“Alguns são, em Jesus Cristo, como criancinhas recém-nascidas; outros, como adolescentes; ainda outros como estando na posse de todas as suas forças. É necessário considerar com diligência que uns têm necessidades de leite, e outros de alimento sólido”. (Catecismo Romano, p. 11)

Sobretudo o amor não acaba. Cada ato de virtude perfeitamente cristão não tem outra origem senão o Amor, nem outro fim senão o Amor, o Amor de Nosso Senhor.

** Dos estudos do Catecismo da Igreja Católica (Prólogo, VI As adaptações necessárias)

Uma das expressões mais impopulares: Ame seu inimigo.

O sentido de amor é tão deturpado hoje em dia que essa expressão é tida como utópica atualmente e alvo de galhofa no cotidiano. No entanto, ela expressa uma das faces do verdadeiro amor.

Quando falamos de amor, logo pode vir à mente o amor que lembra atração física ou afinidade em cônjuges ou ainda as diversas naturezas da amizade que trazem consigo lealdade, família e comunidade.

No entanto, expressamos aqui o amor Ágape pelo qual é possível desenvolver interpretações teológicas nos trazendo a ideia de autosacrifício e sentimento desinteressado aos próximos, amigos e inimigos.

“O amor fraterno só pode ser gratuito, nunca pode ser uma paga a outrem pelo que realizou. (…) Por isso, é possível amar os inimigos. Essa mesma gratuidade leva-nos a amar e aceitar o vento, o sol ou as nuvens, embora não se submetam ao nosso controle”.

É por meio desse amor que passamos a compreender que, por mais cheios de virtudes que possamos nos julgar ser, não somos melhor do que ninguém, precisamos uns dos outros e temos responsabilidade para com os outros e com o mundo, valendo a pena ser bons e honestos.

Tudo isso se reflete no coletivo, em como tratamos nossos afetos e os que, sabe-se lá o porquê, não gostam tanto assim da gente. Não refletir sobre nada disso é ignorar o mundo, é ignorar o cumprimento de uma agenda que maltrata a vida em todas as suas formas, é ignorar você mesmo como ser pensante, vivente, fraternal e a cultura do cuidado.

É bíblico:

“Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; (…) Com efeito, se amais aos que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos a mesma coisa? E se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem também os gentios a mesma coisa?” (Mt 5 43,46-47)

** Dos estudos da Carta Encíclica Laudato Si, do Santo Padre Papa Francisco. (Tópico 5).

Consumismo desenfreado

Comprar desenfreadamente e por simples impulso apaga a sua mágoa e o sentimento ruim que paira sobre ti?

É um costume teu manter-se em um mecanismo consumista compulsivo e acabas sendo arrastado pelo turbilhão de compras e gastos supérfluos?

Infelizmente, essas ações fazem parte de uma agenda maior que nos propõe diariamente preencher o vazio do nosso coração a partir de objetos de compras, de posse e de consumo.

“Quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objetos para comprar, possuir e consumir”.

O consumo desenfreado pode esconder problema emocional e pode também estar ligado à dificuldade para lidar com as emoções.

Tais comportamentos, porém, são destinados a uma minoria que detém poder econômico e financeiro. E não é “todos” como muitas vezes querem que pensemos.

Nas novas gerações, os ainda pequenos e em formação, são levados a essa rotina de comportamento em loop, levando a predominar numa sociedade pessoas que não aceitam limites e que respeitam normas apenas na medida que essas não as contradigam as necessidades próprias.

E, como acréscimo, tais pessoas, já formadas, passam longe de capacidades, como sair de si mesmo rumo ao outro, não reconhecendo às outras criaturas o seu valor, não se interessando em cuidar de algo para os outros, não aceitando a importância dos limites.

Você é/está assim hoje?

Já tinha percebido o quão prejudicial é estar nesse mar de peixes levado ao cumprimento de uma robusta agenda mundial?

É preciso pensar, refletir e mudar!

Por ti, pelo seu filho e pelo mundo que queremos deixar para as próximas gerações.

** Dos estudos da Carta Encíclica Laudato Si. Capítulo VI, tópico 1.

#LaudatoSi#CartaEncíclica#IgrejaCatólica

Se tem algo que faz parte do meu eu, meu jeito de pensar é I Pd. 3,15-16.

Como menciono para os mais próximos regularmente, quase ninguém está verdadeiramente interessado em nos escutar, apenas ouvir. Contudo, muitos querem nos ver e julgar.

E é nessa oportunidade que podemos ser o que os olhos de outrem não esperavam, nem imaginaram, nem escutaram. Tudo isso, sem dizer uma única palavra e apenas sendo coerentes aos príncipios mediante atos.

*** Dos estudos tardios, mas maravilhosos, do Catecismo da Igreja Católica.

#catecismodaigrejacatólica#catecismo#igrejacatolica

Sobre a mansidão confundir os impulsivos

“Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso.”
(Eclo 3,19)

A mansidão é muitas vezes confundida com “frouxidão”. No entanto, não é isso que a Palavra de Deus nos mostra.

A mansidão para quem a pratica é muito mais uma estratégia de evitar confrontos que nunca deveriam existir dando espaço para nos voltarmos para o que realmente importa.

A mansidão é de nenhuma maneira covardia, mas é a via da prudência da qual deveríamos sempre buscar.

Ser manso é ser paciente, mas não necessariamente passivo. É possível ser manso e ativo.

A mansidão não pode ser confundida com apatia, descontextualização da realidade.

O manso busca olhar para o outro, respeitando-o nas suas especificidades ou apenas ignorá-lo diante da pequenez de cada dia.

É também aquele que “sai da panelinha” e destrava barreiras para chegar até o outro, em um movimento contínuo de saída, chegando até àqueles que não foram ainda visitados.

Ser manso é também ter a oportunidade de buscar o equilíbrio, evitando impulsos e superficialidades que, por conseguinte, trazem arrependimentos.

É também alvo de inquietação quando lhe fogem as estribeiras e saem da linha corriqueira.

A mansidão é inteligente, meigo, doce, suave e reflete sobre as palavras de outrem, com escuta de qualidade. Deve ficar com o bom e rejeita o mal.

O manso luta, todos os dias, e consegue ser estritamente determinado nos seus princípios, mas só quando é necessário.

Afinal, quase ninguém está realmente interessado em saber o que outro – sendo manso ou não – realmente quer dizer.

A mansidão confunde os impulsivos e consegue ser tão violenta quanto.

#mansidão#Manaus#amazonas

Nós voltaremos ao pó

pó

Nós somos “vários nadas”. Sério mesmo. A gente sabe disso, mas parece que precisamos que, diariamente, alguém nos lembre disso. Todos os dias. As coisas vão acontecendo, somos expostos a tantas atividades e correrias, emoções, sistemas econômicos, problemas de relacionamento (inclusive e principalmente entre os familiares)…que esquecemos que, um dia, voltaremos ao pó.

É difícil, mas esse “retornar ao pó” não precisa ser quando estivermos velhinhos com todos os fios de cabelos brancos e já termos feito “tudo o que gostaríamos de fazer nesta vida”. Não precisa termos contraído uma doença. Não precisa que tenhamos o mau hábito de beber e dirigir. Não precisa sermos pessoas que buscamos situações que afetam negativamente a nossa vida.

Às vezes, o “retornar ao pó” nos pega desapercebidos. Assim, como quem não quer nada… Mesmo que estejamos extremamente saudáveis, sejamos novos de idade cronológica, sejamos pessoas que busquemos não fazer nada de mau a ninguém ou ainda busquemos o caminho reto, bom e honesto.

Quando essa volta ao pó acontece dessa última forma, é ainda mais chocante. São vidas interrompidas. Tantos planos que não serão concretizados. Tanta saudade distribuída por corações próximos.

Uma coisa é certa: mesmo que busquemos nos preparar para a morte, isto é, viver da melhor forma possível (com consciência, responsabilidade e sabendo que cada dia pode ser o nosso último dia), não estamos preparados para a morte nesta vida. Caso você tenha alguma fé religiosa, vai se apegar nela, mas, dependendo da situação, pode reagir de forma infantil diante de uma perda ou, como costumamos dizer, de um “ganho para Deus”.

Voltando: nós somos apenas “vários nadas” e que a gente possa se lembrar disso sempre e parar de fazer, muitas vezes, tempestade em copo d’água em situações que poderiam ser tão pequenas. A vida passa em um piscar de olhos. Um dia voltaremos ao pó.

Eu lembrei isso hoje a você. Lembre disso a alguém assim que tiver a oportunidade.

 

Sobre o milagre da multiplicação dos pães e peixes

Como é difícil de, em nossa pequenez, entender os maravilhosos milagres que Jesus praticou.

A multiplicação dos pães e peixes, descrita nos quatro evangelhos, nos recorda as demais passagens bíblicas desde a época do grande êxodo, quando houve a entrega do maná que desceu dos céus ao povo do deserto (Ex 16, 1-36).

Ainda no Antigo Testamento, a distribuição de alimentos também aconteceu em 2Rs 4, 42-44. Tudo para dizer que a multiplicação do pão é algo já prescrito por Deus, desde os primórdios, e que Jesus veio para ser esse Pão da vida que desceu dos céus para nos alimentar.

Ele recordou esse momento na Santa Ceia e nós somos testemunhas da transubstanciação do pão e vinho em Corpo e Sangue de Cristo todas vezes que vamos à missa e prestamos verdadeira atenção no momento da consagração e em todos os gestos que o sacerdote, um dos representantes de Cristo durante a missa, realiza na mesa do altar.

Tem coisas (de cordeiro)

Tem coisas muito loucas que só mesmo a gente para pensar.

Desconfiar que algo está sendo mascarado é uma delas.

Um dos esportes preferidos de muitos é tentar mascarar a falsidade a partir de um jeito meigo e carinhoso. Nem todos caem.

Interessante é que a gente até se recusa a acreditar que haja pessoas assim. Talvez, muito pela forma como fomos criados, com amor e carinho e atenção.

Mas essas pessoas existem.

Muitas delas ganharam espaço na internet. Mas há  várias delas por aí, andando em todos os lugares, ao nosso redor.

Cabe a nós identificá-las e aprender a nos proteger delas, descobrindo o que há por trás da pele de cordeiro.

Cenário-circo de homicídio e costume

Corre que acabei de confirmar com o IML. Eles estão indo para lá!”

Normalmente, depois dessas frases, o motora acelera e a gente segue pelas ruas da cidade atrás de mais uma vítima de assassinato em Manaus.

Depois de um grande “pergunta aqui, pergunta de novo, pergunta mais uma vez daquela vizinha ali”, achamos o local.

Bem, achamos – depois de descer uma ladeira e até descer um barranquinho, mas achamos!

homicidio
Foto: Girlene Medeiros

A partir de então o olhar de repórter se torna ainda mais ávido e repara com muita atenção os detalhes ao redor.

Procuro imediatamente saber onde estão as viaturas policiais, porque né? A síndrome de super herói está com os pés no chão por aqui.

Tudo isso para, em seguida, ter uma noção onde está o corpo (às vezes, é em via pública, mas as vezes é dentro de uma casa…).

Meu olho vai logo no corpo. “Quantos tiros? Ou será que foram facadas?”, é o primeiro pensamento que invade minha mente.

Meu olhar passeia pelo cenário, acompanhando a ação dos policiais civis que tentam identificar qualquer vestígio de autoria do crime.

Os peritos criminais então… Muitas vezes, precisam, literalmente, “enfiar o dedo” nos ferimentos para ter certeza se foram dois tiros ou se a bala não transfixou.

Com o tempo, você se acostuma com aquele sangue todo se espalhando pelo chão, às vezes, rede, cama, calçada…

Realmente. Com o tempo, você se acostuma com muita coisa na ronda policial.

A dificuldade de encontrar os locais de crime, o tempo de espera necessário para esperar uma ocorrência ser “fechada”…

As barreiras para se conseguir informações sobre o crime. Nem falo daquelas que podem atrapalhar a investigação, falo das que deveriam ser públicas mais facilmente mesmo.

Você se acostuma a visitar, quase que diariamente, o IML e até já decorou o ramal das polícias Civil e Militar.

Mas tem UMA coisa que não consigo me acostumar:

A presença de crianças em locais pós-crime. É incrível como, mesmo depois de pouco mais de quatro anos fazendo ronda policial, isso ainda me impressiona.

São crianças de, no mínimo, seis anos. Ali, assistindo aquele corpo estendido no chão como se fosse a novidade do dia ou o telejornal do meio-dia ao vivo.

Crianças muitas vezes acompanhadas das mães. Bem perto, tentando tirar fotos e filmar o momento em que a equipe do IML coloca o corpo no camburão.

“Eita, mãe! É fulano, né?”, diz a criança, enquanto a mãe responde: “É sim. Ai Jesus, quanto sangue!”.

Ainda me impressiona como o horror é interessante para tantos.

Enquanto penso que estou ali apenas porque aquele é meu ofício, há aqueles que escolheram estar naquele cenário.

Fico pensando: qual a porcentagem de inocência que ainda há naquela criança?

O horror se torna comum pelo que percebo. E talvez não só para mim quando de ofício.